domingo, 23 de agosto de 2015

Últimos desejos antes do fim

Rivaldo Chinem

Larissa Roso, repórter do Zero Hora de Porto Alegre (RS) há alguns anos teve uma brilhante ideia e apresentou à chefia, tentou colocar em prática em 2012, mas as demandas diárias mais urgentes a impediram, o que não a fez desistir. No ano passado ela retomou o projeto e foi conhecer a rotina do Núcleo de Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas de sua cidade. O resultado foi a reportagem “Últimos Desejos”, que traça as vontades das pessoas na proximidade da morte. Um perfil de Larissa foi traçado pela colega Alana Rodrigues na última edição da revista Imprensa, nas bancas.

A ausência de discussão na mídia sobre a morte, limitada aos fatos nas páginas policiais, foi outra motivação para dar vida ao projeto de Larissa: “A gente fala pouco da morte. Achava que faltava algo mais reflexivo, como abordar a morte e a proximidade dela. Não sabemos quando vamos morrer nem de qual maneira. Essas pessoas também não sabem exatamente, mas têm uma ideia muito próxima. Eu tinha essa curiosidade de saber como elas lidam com essa situação, o que sentem e o que fazem”.

Assim, a repórter captou palavras, silêncios, hesitações e gestos de quatro pacientes, todos com câncer. Frequentou reuniões da equipe composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, farmacêuticos e teve liberdade de conversar com doentes e seus familiares. Conheceu diversos pacientes, quase todos morreram antes da reportagem ser publicada. Perguntava sobre desejos, vontades e sonhos. Também teve o cuidado de não mencionar a palavra “últimos”, em respeito àqueles que não estavam preparados para falar sobre o fim da vida.

Alguns entrevistados queriam apenas dormir na própria cama, ter a chance de afagar seus bichos de estimação, outros ansiavam pelo prazer de acomodar-se numa cadeira no pátio de casa para tomar um chimarrão. Uns sonhavam em preparar um jantar para aqueles que amavam. Uma mãe desejava experimentar de novo a sensação de pentear os cabelos da filha. Um rapaz só pensava em rever o pai, que não via há mais de vinte anos, algo que se tornou possível por esforço da repórter. Falta reportagens deste tipo em nossa imprensa.

Rivaldo Chinem é autor vários livros, como “Terror Policial” com Tim Lopes (Global), Sentença – Padres e Posseiros do Araguaia” (Paz e Terra), “Imprensa Alternativa – Jornalismo de Oposição e Inovação” (Ática), “Comunicação Corporativa” (Escala com prefácio de Heródoto Barbeiro), “Marketing e Divulgação da Pequena Empresa” (Senac) na 5ª.edição, “Assessoria de Imprensa – como fazer” (Summus) na 3ª. Edição, “Jornalismo de Guerrilha – a imprensa alternativa brasileira da censura à Internet” editora Disal, , “Comunicação empresarial – teoria e o dia-a-dia das Assessorias de Comunicação” , editora Horizonte, “Introdução à comunicação empresarial”, editora Saraiva, “Comunicação Corporativa” editora Escala com prefácio de Heródoto Barbeiro ; e "Comunicação empresarial - uma nova visão da empresa moderna" (Discovery Publicações)

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