As conclusões das
discussões serão consolidadas num documento a ser encaminhado, nas próximas
semanas, aos ministérios da Agricultura e Meio Ambiente, além de órgãos
reguladores
A ausência de ações de curto e médio prazos que reduzam os
efeitos danosos da ferrugem asiática sobre a cultura da soja pode resultar em
perdas de faturamento da ordem de R$ 39 bilhões para o produtor rural, além de
um impacto negativo de R$ 19,5 bilhões nas exportações da cadeia e outros R$
10,6 bilhões seriam perdidos pela menor arrecadação de tributos. Os dados são de
um estudo elaborado pela Sparks Consutoria e Inteligência Competitiva, que foram
analisados no Debate: O Futuro da Soja no Brasil, promovido pela
Associação Brasileira do Agronegócio e o Instituto de Estudos do Agronegócio
(ABAG), nesta quinta-feira (27), em Brasília.
Ao final do encontro, que contou com a participação de
representantes dos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Meio
Ambiente, além da Embrapa e do parlamento, o presidente da Abag, Luiz Carlos
Corrêa Carvalho destacou a importância desse primeiro encontro para debater os
impactos socioeconômico da ferrugem asiática na cadeira produtiva da soja.
“Diante da gravidade do problema e, para darmos sequência às discussões do tema,
faremos um resumo executivo com as conclusões do debate para entregarmos aos
ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente e também aos órgãos de
regulamentação para que ações sejam tomadas no sentido de equacionar a questão”,
afirmou.
Um dos pontos fundamentais para encaminhar uma solução para o
problema da ferrugem, que pode, segundo o estudo, num caso extremo, diminuir em
até 3 milhões o número de empregos gerados na cadeia da soja, é reduzir a
burocracia dos órgãos de fiscalização sanitária, que impede a aprovação de novos
produtos para combater a doença. “Um levantamento do Ipea mostrou que a Anvisa
tem capacidade de analisar apenas 150 processos de produtos inovadores por ano,
enquanto existem hoje nada menos que 1.300 processos em análise. Isso cria um
gap tecnológico que só seria normalizado em 2022”, afirmou Carvalho.
No caso de uma situação de risco sanitário como o da ferrugem
da soja o caso fica ainda mais sério. Na opinião do secretário-executivo do
Ministério do Meio Ambiente, Francisco Gaetani, que participou da abertura do
evento, o caminho do diálogo e do acerto de pontos divergentes é o mais
indicado. “Exemplo disso foi um encontro, a meu ver inédito, realizado na semana
passada, que reuniu as ministras Katia Abreu, da Agricultura, e Isabela
Teixeira, do Meio Ambiente, com representantes de 27 secretarias de agricultura
e do meio ambiente de vários estados. Penso que a melhor forma de resolver os
problemas é organizar os contraditórios”, disse Gaetani.
Na mesma linha otimista, opinou o deputado federal Marcos
Montes, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, que também esteve
presente na abertura dos debates. A seu ver, apesar do país viver uma situação
de crise econômica e política, as várias esferas de poder tem se conversado.
“Agora mesmo, o Ministério da Agricultura formou um grupo de trabalho e tivemos
uma reunião muito produtiva com dirigentes da Anvisa para reduzir os gargalos”,
comenta o parlamentar.
Entre as soluções propostas no encontro destacam-se: criação
de uma janela para a semeadura, manejo da cultura na entressafra, semeadura de
cultivares precoces no início da época recomendada, monitoramento da doença na
lavoura e na região suspeita e aplicação de fungicidas nos primeiros sintomas ou
de forma preventiva. “No caso da janela para semeadura, sabemos que nem todos
ficam felizes com essa medida, mas o produtor tem de entender que estamos diante
de um fungo muito agressivo e que, se nada for feito, o cenário crítico de
perdas desenhado para 2025 pode até ser antecipado”, diz Cláudia Godoy,
pesquisadora da Embrapa, que fez uma apresentação no encontro.
Para Eduardo Daher, diretor-executivo da Andef – Associação
Nacional e Defesa Vegetal, convencer o produtor de soja a obedecer a janela de
semeadura é difícil, principalmente quando os preços da soja estão em patamares
elevados. “Se a soja sinalizar que pode voltar ao patamar de US$ 15 o bushel,
ficará mais difícil acreditar que o produtor vai respeitar janela de plantio,
refúgio e que não plantará soja sobre área onde estava plantada soja”, comenta.
Com tal análise concorda também outro participante das
discussões, o presidente do Instituto Pensar Agropecuária (IPA) e
vice-presidente da Aprosoja Brasil, Ricardo Tomczyk. “A possibilidade de se ter
uma safrinha de soja é um prato feito para o produtor. Nesse sentido, falar em
vazio sanitário é realmente complicado”. No caso do Mato Grosso, segundo Tomczyk
o que houve foi uma abordagem equivocada para a comunicação sobre a necessidade
do vazio. Segundo Cláudia, já se conseguiu acordos em relação a esse ponto em
Estados como Goiás e em outros, como no caso do Paraná, o assunto está bem
avançado.
Todos os participantes do encontro promovido pela Abag
concordaram que a questão burocrática é o grande empecilho para que o assunto
seja melhor discutido e solucionado. “Não resta dúvida que a burocracia se torna
ainda pior quando ela se soma à ideologia. Fica complicado conciliar e
harmonizar três visões distintas do Ibama, Ministério da Agricultura e Anvisa”,
afirmou Girabis Evangelista Ramos, diretor do Departamento de Fiscalização de
Insumos Agrícolas e Afins do Mapa.
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