"O decrescimento é uma proposta alternativa para a
política pós-desenvolvimento. Sua meta é uma sociedade em que se viverá
melhor trabalhando e consumindo menos." Serge Latouche
Diante do
cenário policrísico que atravessamos, não enxergo neste momento outra saída
para o capitalismo a não ser o decrescimento sereno. Já estamos vivendo uma
era de incertezas e escassez que nos obriga a repensar a maneira como
vivemos. Em São Paulo, onde resido atualmente, sentimos na pele o calor
excessivo, a falta de água com o rodízio velado em bairros da periferia e
falta de energia elétrica, resultado das mudanças climáticas que são
ocasionadas pela sociedade dos excessos.
Em maio de 2014, o professor
José Goldemberg já alertava sobre a falta de energia elétrica no Brasil:
"Corremos o risco de apagões elétricos e isso é evidente, só o ministro da
energia não vê isso. ou está tentando empurrar o problema para o ano que vem
baixando a tarifa de energia". O professor ainda fez um alerta sobre a pane
nos sistemas das hidroelétricas e comentou que as termoelétricas, naquela
época, já operavam acima da capacidade. E agora?
Segundo o relatório
"Mudando a atmosfera: Antropologia e Mudança climática", disponível no site
da American Anthropological Association, psicólogos consideram que os
mecanismos cognitivos e emocionais influenciam a percepção, e isso já havia
sido anunciado por Edgar Morin e Frijot Capra, devido à crise de percepção em
função da visão mecanicista da vida e da incapacidade de a ciência enxergar a
vida como sistemas. A questão em jogo é que a falta e o excesso de
informações levaram a sociedade científica e os tomadores de decisões globais
a diferentes interpretações sobre o fenômeno das mudanças climáticas. O
resultado desastroso é que ainda hoje existem certos grupos que acreditam que
os estudos sobre as mudanças climáticas são exagerados ou mesmo que o
fenômeno não existe. Isso acontece por alguns motivos: o nosso imprinting
cultural, a normatização excessiva, a visão de mundo ocidentalizada, que
analisa as crises apenas sob os aspectos econômicos, reflexo da visão
fragmentada entre natureza e cultura. Por isso, é tão difícil abandonarmos
certos padrões mentais e comportamentos repetitivos e até mesmo perversos -
pessoa que persiste no erro, teimosa, que ignora as evidências, que se desvia
do certo e do verdadeiro.
É o efeito recursivo de como agimos. Isso se
espelha na sociedade e talvez seja por isso que não consigamos alcançar
padrões de comportamentos que nos levem à sustentabilidade.
Não encaro o
consumo como o único vilão dessa história, mas a arrogância e os modos de
vida desde a modernidade, que separou natureza e cultura e atribuiu ao homem
o falso poder de controlar a vida e os fenômenos da natureza. Somos frutos da
artificialidade que nós mesmos criamos, e isso é fácil de entender: basta
acessarmos o Facebook e nos depararmos com as mentiras que contamos sobre nós
mesmos. Mesmo assim, como sou esperançosa, acredito que muitas bifurcações
nos levarão às regenerações e metamorfoses múltiplas e simultâneas, que nos
colocarão novamente em reconexão com a tríade perdida
indivíduo-espécie-sociedade e nos trarão um novo modo de vida em que nossos
valores serão revitalizados, recontextualizados e reeditados para o bem da
era planetária. É preciso ecologizarmos as ideias.
Ecologizar significa
reaprender a pensar!
VIVIAN APARECIDA BLASO SOUZA SOARES CESAR - Docente na FAAP -
Fundação
Armando Álvares Penteado. Doutoranda e Mestre em Ciências Sociais; Pesquisadora do Complexus Núcleo na Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo - PUC/SP. Relações Públicas. Especialista em
Sustentabilidade. Diretora da Agência Conversa Sustentável. Autora do Blog:
Conversa Sustentável.
E-mail: vivianblaso@uol.com.br
Veja também: Crise no sistema de abastecimento de energia já havia sido anunciada - Entrevista com José Goldemberg - BandNews (maio/2014)
Veja também: Crise no sistema de abastecimento de energia já havia sido anunciada - Entrevista com José Goldemberg - BandNews (maio/2014)
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