CLAMOR COLETIVO
Sou a insatisfação. Mas só me realizo na manifestação coletiva.
Individualidade. Num clamor universal: o novo fenômeno social.
O modelo mundial está equivocado.
Numa nave, tão pequena de abundância terrena.
Voltar aos estudos tribais.
No respeito: a individualidade
O mundo: Clama
A uma simples felicidade!
Sorrir ao desconhecido, sorrir, sorrir
A telepatia global: a empatia
As necessidades: A paz, o sono tranquilo, o respirar, o ar puro
Enquanto viver: São quatro
Estações no ano
Nas colheitas sazonais
Um supre o outro, sem ganância, sem torpeza.
Enquanto escrevo o que penso, nunca saberás o que canto.
Enquanto escrevo o que digo, nunca saberás o que penso.
São os gorjeios dos pássaros
A natureza do encanto, o recôndito d'alma, a tênue seda do amor.
O segredo contido numa explosão interior.
Atalir Ávila de Souza
Pai da autora do Blog Conversa Sustentável, Advogado e Poeta
Está
claro que estamos vivendo um clamor coletivo. Época de descrença
nas instituições políticas, privadas e religiosas. Essa falta de crença
tem levado as pessoas para as ruas, a manifestarem suas insatisfações, mas
onde há descrença também há esperança. Se não fosse a descrença, não teríamos
a esperança e não nos movimentaríamos por melhores condições de vida,
afinal o discurso das instituições políticas, privadas e religiosas também é
o nosso discurso e sempre nos direcionaram a buscar o bem-estar.
O desejo
comum da nossa civilização é a felicidade, por isso estamos presenciando o
movimento dos trabalhadores e de categorias como a dos médicos em busca de
melhorias e autonomias que os estariam beneficiando em seus processos e
dinâmicas de atendimentos cotidianos aos seus pacientes. Vou tomar como
exemplo o ato médico para chamar a atenção sobre a emergência de reformas que
poderiam verdadeiramente transformar não só os médicos brasileiros, mas a
sociedade como um todo.
Edgar Morin, em seu livro A via para o futuro da
humanidade, dedicou um capítulo para analisar a situação da medicina e da
saúde. O autor tomou como exemplo a medicina ocidental, que, em função dos
progressos na pesquisa, ampliou a expectativa de vida no mundo ocidental de
25 para 80 anos, o que contribuiu com a medicina ensinada nas faculdades e a
tornou legítima e aceita pela comunidade científica.
A partir da década de
60, com o aparecimento da AIDS, a comunidade de médicos ficou abalada e tomou
consciência de que não seria possível controlar a proliferação de vírus e
bactérias. Com isso, foi necessário repensar os protocolos e rever as crenças
de que este processo racional legitimado não produzia somente verdades
racionais.
Nessa mesma época, em Nova York, Rachel Carson desencadeou uma
série de debates nacionais sobre o uso de pesticidas químicos e os limites
do progresso tecnológico, pois o uso indiscriminado de pesticidas começava
a afetar a vida de pessoas, plantas e animais.
Segundo Morin, a
consciência ecológica nos fez reconhecer os limites dos poderes humanos sobre
a natureza. Para ele, as hiperespecializações na medicina
compartimentalizaram os saberes sobre o corpo e separaram o corpo em partes
fragmentadas. Essa fragmentação promoveu a separação entre disciplinas, que
oculta as conexões complexas que existem entre as partes do corpo e suas
correlações com o ambiente. O indivíduo é tratado como paciente, mas ignorado
como pessoa. Há uma disjunção entre a medicina que trabalha o corpo e as
diversas psicoterapias, ou seja, a medicina trata o organismo, mas raramente
trata a pessoa inserida em seu contexto social.
O desenvolvimento
farmacológico empobreceu o conhecimento fitoterápico, e hoje nenhum
ensinamento universitário mostra que o ser humano é multidimensional. Dessa
forma, a ciência e a medicina isolaram os indivíduos. Mas o indivíduo vive em
diversos circuitos e faz parte de uma biosfera, e isso reflete a imagem das
necessidades de mudanças necessárias
à nossa civilização
contemporânea.
Pensar na medicina ocidental requer o complexus, isto é,
aquilo que é tecido em conjunto. Como posso tratar um paciente ignorando que
ele é um sistema aberto recursivo e interacional?
A medicina requer a
transdisciplinaridade - um modo organizador que pode atravessar as
disciplinas e vai convergir para a unidade. Para reformar a medicina é
necessário também reformar a ciência; precisamos religar o que foi desligado.
É necessário contextualizar e recontextualizar as relações entre os saberes
fragmentados.
Como podemos desconsiderar os conhecimentos sobre a natureza,
os alimentos e suas propriedades curativas? A medicina chinesa e a acupuntura
inseridas nos procedimentos da medicinal ocidental? O papel da religião como
crença que cura? O saber dos xamãs? Esses dilemas ainda imperam na
Sociedade Brasileira de Medicina, que até dias atrás conferia aos médicos o
poder exclusivo de prescrever terapias aos seus pacientes. O que devemos
fazer com o conhecimento de um fisioterapeuta que, na lida diária com
seus pacientes, descobre práticas inovadoras de melhorias, por exemplo,
das funções motoras?
Morin encerra o capítulo com as vias reformadoras da
medicina e da saúde: a reforma dos estudos da medicina, reforma da relação
médico/paciente, reforma da relação generalista/especialista, reforma dos
orçamentos, a via das simbioses entre medicinas, reforma dos hospitais e da
indústria farmacológica.
Há uma emergência de reforma não só no pensamento
da medicina, mas na reforma da ciência. Essa é uma proposta ousada, mas não é
impossível, uma vez que a reforma do pensamento nos sugere um reaprender a
pensar, a religar todos os continentes que foram separados desde a visão
cartesiana que percorre a ciência contemporânea até os dias de hoje.
Ir
para as ruas manifestar-se já é um ato corajoso nos dias de hoje, mas também
é um sinal de mal-estar geral na civilização, por isso encerro o texto com
uma frase de Freud: "Os juízos de valor dos homens são inevitavelmente
governados por seus desejos de felicidade, e, portanto são uma tentativa de
escorar suas ilusões com argumentos".
*Profa. Vivian A. Blaso S. S. Cesar é Doutoranda e Mestre em
Ciências Sociais, Especialista em Marketing e Sustentabilidade, Presidente
da Organização do #Ciis2013. Ela estará no painel Comunicação, Cultura
e Tecnologias que ocorrerá no segundo dia do Congresso (30/8). Veja
a programa completa aqui https://www.facebook.com/Congresso.CiiS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARSON,
Rachel. Primavera silenciosa. Trad. Claudia Sant`Anna Martins. 1. ed. São
Paulo: Gaia, 2010.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Trad. Paulo
César Souza. 1. ed.São Paulo: Penguin Classics, Companhia das Letras,
2011.
MORIN, Edgar. A via para o futuro da humanidade. Trad. Edgar de
Assis Carvalho, Marisa Perassi Bosco. 1. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2013.
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